Obesidade infantil: o aumento de peso entre as crianças brasileiras

Um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde mostrou que uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com o peso acima do ideal: são 7% com sobrepeso e 3% já com obesidade.

Um estudo feito pelo Ministério da Saúde mostrou que 1 em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos de idade está com o peso acima do ideal: 7% com sobrepeso e 3% com obesidade.

Este estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019), coordenado pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), indica ainda que 1/5 das crianças (18,6%) na mesma faixa etária estão em uma zona de risco de sobrepeso.

Foram considerados indicadores de 2019, período anterior à pandemia de covid-19 e durante o qual especialistas acreditam que os indicadores possam ter piorado ainda mais devido a mudanças na rotina de alimentação, atividade física e consultas médicas.

Já falamos muito aqui no blog sobre o tema, se quiser conferir outra matéria: https://www.similia.com.br/obesidade-infantil-ma-alimentacao-e-sedentarismo/

Os dados soaram um alerta para a comunidade médica, que já monitorava outras pesquisas sobre excesso de peso na infância. A mais recente delas, divulgada pelo Ministério da Saúde em 2021, estima que 6,4 milhões de crianças têm excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade.

“O que realmente nos preocupa é a tendência de aumento. No passado a obesidade era um fenômeno concentrado principalmente entre adultos, mas aos poucos ela foi atingindo também os adolescentes, as crianças mais velhas e agora as de menos de 5 anos”, disse Inês Rugani, pesquisadora do Enani-2019, à BBC News Brasil.

Médicos, pediatras e nutrólogos apontaram as principais razões que explicam o crescimento no sobrepeso e obesidade entre as crianças brasileiras.

Alimentos ultraprocessados

A obesidade infantil é resultado de uma série complexa de fatores genéticos e comportamentais, que atuam em vários contextos como a família e a escola. Segundo os especialistas ouvidos, porém, os maiores responsáveis pelo aumento de peso entre as crianças brasileiras são os alimentos ultraprocessados.

Sucos de caixinha, refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos e macarrão instantâneo são alguns dos produtos mais consumidos pelos pequenos atualmente.

E se antes muitas famílias tinham dificuldade de acesso a alimentos prontos ou industrializados, hoje eles se tornaram mais baratos e disponíveis.

Mudanças nos padrões de amamentação

Outro problema identificado pelos especialistas é o não cumprimento do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade, associado à introdução dos industrializados já durante os primeiros meses de vida.

Segundo o Enani-2019, menos da metade (45,8%) dos bebês menores de 6 meses mamam exclusivamente no peito da mãe. Por variados motivos, muitas mães não conseguem amamentar e acabam optando pela fórmula.

“Tomar leite na mamadeira produz menos saciedade do que a amamentação. Além disso, a criança fica mais passiva do que quando está mamando no peito, o que pode ser prejudicial para o futuro, quando tiver que pegar e buscar os alimentos”, diz Rubens Feferbaum, pediatra e nutrólogo, presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Segundo o médico, crianças que tomam fórmula ou leite de vaca industrializado também podem apresentar maior ganho de peso.

Falta de atividade física

Outro componente importante para o aumento nas taxas de sobrepeso e obesidade é a mudança nas atividades dos pequenos. Segundo os especialistas, cada vez mais as crianças têm preferido brincadeiras com pouco ou nenhum movimento.

O estilo de vida das crianças mudou e agora elas passam muito tempo sentadas ou deitadas, assistindo televisão, jogando videogame e navegando no celular ou tablet. Parte do tempo que no passado era usado para brincadeiras que exigiam correr, dançar e pular agora vai para a tecnologia.

A falta de espaço físico para atividades mais dinâmicas também se tornou um problema. Enquanto algumas famílias vivem em regiões periféricas onde não há parques ou segurança na rua, outras crianças passam o dia trancadas em apartamentos no meio da cidade.

Influência da família

 

Os hábitos adotados pelos pais e demais familiares também podem ter influência no peso da criança, de acordo com os médicos ouvidos pela reportagem.

A cultura familiar é muito importante, pois as crianças consomem os alimentos oferecidos pelos pais e seguem as regras da casa quando se trata de tempo de tela”.

Além disso, é durante a infância que muitos dos hábitos alimentares que levamos para toda a vida são formados. E muito do que é aprendido pela criança é absorvido por meio da observação.

O peso durante a gestação também pode afetar a situação do bebê. O IMC da mãe durante a gestão pode estar intimamente relacionado ao peso futuro da criança..

Especialistas afirmam que é possível controlar o peso na gravidez, mas, para melhores resultados, é fundamental fazer mudanças no estilo de vida antes mesmo de engravidar.

Falta de acompanhamento especializado

Nem todas as famílias no Brasil tem um acompanhamento regular com um pediatra. Há uma cultura nacional de só levar os filhos ao médico em casos de emergência, mas o ideal é acompanhar a evolução da altura e do peso com visitas regulares.

É muito mais fácil e possível reverter o quadro de ganho de peso quando ele é identificado precocemente. Após os 5 anos e sobretudo na adolescência, a obesidade se torna mais difícil de reverter. Na verdade, quando mais a obesidade se estende na linha do tempo de uma criança pior será o prognostico para ela.

Quando o sobrepeso ou a obesidade são identificados pelo pediatra, o indicado é que a criança seja encaminhada para um médico especializado, como um nutricionista ou endocrinologista.