No último mês de abril, o médico homeopata italiano, mundialmente conhecido por sua abordagem da Teoria da Complexidade Dr. Massimo Mangialavori, esteve no Brasil para um congresso promovido pela APH – Associação Paulista de Homeopatia. O Blog Homeopatia e Saúde esteve lá e conversou com o Dr. Mangialavori. Leia o resumo e assista a entrevista na integra no vídeo.

Blog. Homeopatia e Saúde – Como explicar para o paciente, ou o público leigo em geral, o que é a teoria da complexidade?

Dr. Massimo Mangialavori – Acredito que a medicina homeopática sempre esteve mais perto da teoria da complexidade. Simplesmente porque a relação entre a causa e efeito não é assim tão direta como na medicina convencional. Por exemplo, mesmo que sabemos que certos distúrbios possam ser causados por certos vírus e certas bactérias, por certos problemas no nosso sistema imunológico, a abordagem homeopática será sempre contextualizada no resultado do paciente. Considerando o que acontece do ponto de vista do corpo, há muitos sintomas possíveis, e não tanto uma única coisa específica, no contexto da vida de uma pessoa, o que sonha, como vive, como se relaciona e quais são suas emoções mais profundas.

Colocando todos esses elementos juntos, sem utilizar o pensamento reducionista, na minha opinião, baseado em grandíssimas intuições, nas teorias antigas.

Por isso, estudar hoje a teoria da complexidade é ver claramente como Hahnemann entendeu e aplicou esse conceito 200 anos atrás, me parece algo muito bonito. Muito bonito e muito importante para deixar claro para nossos colegas alopatas.

A rigor, em poucas palavras, a teoria da complexidade não é uma coisa fácil. O que é interessante e que na homeopatia procuramos fazer é dar valor às mensagens do corpo.

 

Blog Homeopatia e Saúde – Quais descobertas o senhor fez que o levaram a desenvolver um sistema próprio de catalogação de medicamentos?

Dr. Massimo Mangialavori – No início, me aconteceu de prescrever remédios pequenos e pouco conhecidos e que davam resultado e então falava com meus colegas sobre e recomendava.

Então, me dei conta de que existiam remédios de série A e remédios de série B, remédios bonitos e remédios feios, mas eram todos remédios, uns mais conhecidos e outros menos conhecidos. Mas ninguém levantou o problema de como estudar melhor.

Quando se estuda um remédio inédito, geralmente se faz experimentações ótimas, mas para mim, nas experimentações há sempre sintomas, temas, conceitos, que fazem parte de algo maior.

A classificação nasceu da necessidade de fazer um diagnóstico diferenciado, na minha visão, mais sensato, racional. Se eu pensei que o remédio era Lachesis e não funcionou, talvez uma cobra parecida, uma outra substância parecida com Lachesis, não uma cobra, mas conveniente.

Do ponto de vista sistêmico e complexo, as coisas importantes estão nos remédios que foram pensados primeiro. Isso me parece importante como elemento de estudo. Ao longo desses 20 anos que venho buscado sistematizar a minha abordagem, comecei a deixar os remédios mais organizados.

 

Blog Homeopatia e Saúde – Como o senhor vê a homeopatia praticada na Itália?

Dr. Massimo Mangialavori – Como tantas coisas na Itália! Meu país, acho que é um país maravilhoso para passar férias. Para trabalhar, muito menos…

…O motivo pelo qual ainda em nível oficial a homeopatia não é reconhecida é por tantos erros intrínsecos à homeopatia. Um pouco porque pelo ponto de vista metodológico e científico o modo de apresentar-se da maioria dos homeopatas é ainda um pouco partidário. Não e fácil enfrentar um discurso científico com outros saberes. Esses colegas falam de coisas muito enfumaçadas, coisas pouco críveis, coisas difíceis de poder confrontar no ambiente universitário. E por isso esse é um problema.

Um outro problema gigantesco é que a saúde, como vocês sabem melhor que eu, é um âmbito em que se pode fazer muito dinheiro. E isso acontece também com a homeopatia. É interessante observar que em países onde a renda não é muito alta, a homeopatia é considerada uma medicina interessante porque custa pouco, é fácil reproduzi-la e se obtêm grandes resultados. Nos países mais ocidentais, como a Itália, tornou-se um grande marketing, há um marketing gigantesco sobre a medicina homeopática. Se chamam de homeopáticas muitas coisas que não tem nada de homeopatia, como os fitoterápicos, os florais de Bach, os suplementos alimentares e muitas outras coisas chamadas de homeopáticas, mas não o são.

Segundo os dados de nossas pesquisas, resulta que na Itália há alguns milhares de médicos homeopatas, mas não é verdade. Há milhares de médicos que prescrevem medicamentos homeopáticos. Mas ser um homeopata é uma coisa diferente, trabalhar vendo pacientes homeopáticos todos os dias por toda a vida é algo bem diferente do que prescrever remédios homeopáticos algumas vezes por semana.

 

Blog Homeopatia e Saúde – Há homeopatia no sistema público de saúde?

Dr. Massimo Mangialavori – Está começando agora. Mas, veja, o problema não é só esse. É uma boa coisa que em alguns hospitais haja um ambulatório homeopático. Com certeza, muito bom. Mas paga-se pouco a esses médicos, são forçados a trabalhar mal. Nos ambulatórios homeopáticos que existem na Itália, nos poucos ambulatórios homeopáticos que existem na Itália, se pode fazer uma consulta de 15, 20 minutos. Em 20 minutos não dá nem para saber como a pessoa se chama. Em 20 minutos só começa a conversa, ainda tem que se tomar o caso. Como é possível trabalhar em 20 minutos?

Acontece constantemente isso, querer incluir no sistema público uma medicina de valor, mas sem dar instrumentos para se trabalhar. É um grande risco. É melhor trabalhar no privado, e trabalhar bem no privado, que trabalhar mal no público. Sou absolutamente a favor disso, mas é preciso pensar em ambulatórios sérios, médicos pagos de maneira justa. Porque um oculista pode apreender tudo em 20 minutos, o homeopata não, não é justo.

É um sistema que tem que mudar e ser organizado melhor, mas ainda estamos longe. Se você se coloca metas pequenas, é fato que existe essa forma de reconhecimento. Não quero ser uma pessoa pessimista, mas estou preocupado com isso. Porque a homeopatia desapareceu em poucos anos quando descobriram os antibióticos, precisamente por essa razão, porque era de baixíssimo nível, feita mal, feita pouco, e foi demonstrado que a eficácia não era comparável à do antibiótico, 70 anos atrás. Hoje poderíamos correr o mesmo risco. Vamos propor ao nível público que a homeopatia não pode ser praticada assim, nem praticada cometendo grandes erros.

 

Blog Homeopatia e Saúde – Sobre a polêmica mundial a respeito da eficácia da homeopatia, o que o senhor tem a dizer?

Dr. Massimo Mangialavori – Penso que é um problema gigantesco. Creio que mais uma vez nós, homeopatas, devemos fazer um grande esforço, sobre o que estamos fazendo. Explico melhor: fico muito chateado, já se passaram 200 anos e estamos ainda discutindo sobre a eficácia dos remédios homeopáticos. Basta! Não é preciso mais fazer esse discurso, mesmo porque já está demonstradíssimo que os remédios homeopáticos funcionam.

Cada vez que encontro esse discurso, cada vez que estou até na Itália e faço conferências com colegas, o único argumento é a diluição dos remédios, que não funciona. E nós fazemos muito mais do que isso.

Mas o que fazemos na nossa epistemologia é algo muito mais vasto, como o discurso da complexidade. Em uma experiência direta, recente, com um paciente cardiológico, fico muito impressionado que talvez possa acontecer, no hospital, que o cardiologista não esteja de acordo com o hepatologista, com o nefrologista, com o especialista em medicina interna, e tenham discussões sobre os tipos de terapia a fazer. Igualmente, dentro da própria cardiologia, se falar com o especialista em arritmias, o especialista em hemodinâmica ou com aquele que se interessa pelo músculo cardíaco, há terapias diversas para se fazer. Isso permite mostrar como é fragmentada a leitura do paciente, mesmo dentro de uma abordagem especializada. Você pode falar com três cardiologistas e vão falar coisas diferentes. Nós, sem ser onipotentes, somos clínicos bons, porque perguntamos tudo sobre o paciente, vemos a totalidade dos sintomas e temos a complexidade da nossa abordagem. É isso que devemos ressaltar, é disso que devemos falar.

 

Blog Homeopatia e Saúde – O paciente que não acredita na homeopatia também pode se beneficiar? O senhor consegue extrair alguma coisa para prescrever um medicamento homeopático?

Dr. Massimo Mangialavori – Certamente, é o paciente que prefiro. Porque quando suspeitam, ou não acreditam, e obtemos nos resultados, são os pacientes que te conquistam, que te chamam mais a atenção. Isso não é um problema.

Nesse sentido, tem algo muito interessante. Vocês devem ter ouvido falar do queijo parmesão. Na produção de parmesão, não se pode usar antibióticos nunca, porque senão o leite não fermenta mais como deve. Há 15 anos, comecei a propor aos produtores de parmesão usar remédios homeopáticos. Nenhum deles estava interessado na ideologia da medicina alternativa, e sim os resultados. Com homeopatia, os custos eram cem vezes mais baixos e os resultados eram cinco, seis vezes melhores do que com fármacos convencionais.

É possível curar as vacas com a medicina homeopática. Você acha que a vaca acredita na medicina homeopática? Não sei! Geralmente colocamos na comida e funciona muito bem, não há nenhum problema.

Há pacientes obviamente com quem é difícil estabelecer uma relação terapêutica e que são difíceis de tratar, mas são difíceis de tratar por um psiquiatra, por um clínico geral, por um homeopata. Se você consegue construir uma boa relação com o paciente que não acredita naquilo que você faz, é difícil tratar bem dele, mas não é uma característica da medicina homeopática, é uma característica da relação humana, da relação terapêutica.

 

Blog Homeopatia e Saúde – Como vê a relação entre a medicina homeopática e a medicina convencional?

Dr. Massimo Mangialavori – Para mim, o que espero, o que sonho, e é isto o que devo falar, a medicina é uma só, na minha opinião. É óbvio que não se pode desconhecer os enormes resultados que se pode obter com muitas técnicas usadas hoje na medicina convencional.

É óbvio que se o caso é uma perna fraturada ou diabetes grave não posso deixar de usar a medicina convencional. No caso desses problemas é necessário avaliar o que é do interesse do paciente.

Nosso tipo de intervenção é outra coisa. É uma coisa que, na minha opinião, se pode muito bem associar, respeitando o nosso paradigma. O que eu quero dizer? O problema não é dar ao paciente cortisona e terapia homeopática juntas. É óbvio que é melhor não fazer, mas em alguns casos se pode fazer. Se é um paciente sem tireoide, se é um paciente diabético, deve-se dar o hormônio tireoidiano, deve-se dar insulina, e ao mesmo tempo tratamento homeopático, para poder usar as doses mais baixas possíveis, para que melhore como um todo. Não há problema. Quando falamos de complexidade é a isso que nos referimos.

 

Assista a entrevista na íntegra.

 

https://www.youtube.com/watch?v=8-HauTb1JxQ